Lucas Silveira
Quando se ouve o termo artes marciais, normalmente o que vem à mente são estilos populares como Taekwondo, Karatê, Judô ou Jiu-Jitsu — disciplinas praticadas em academias ou dojos, focadas na autodisciplina, no condicionamento físico e em formas ritualizadas de combate. No entanto, essa percepção comum acaba por obscurecer o verdadeiro significado do termo e a razão original de sua existência.

A expressão artes marciais vem do latim ars martialis, que significa “as artes de Marte” — Marte sendo o deus romano da guerra. Ou seja, desde sua origem, as artes marciais não estavam restritas a esportes ou defesa pessoal, mas abrangiam todo o conjunto de habilidades necessárias para a guerra. Historicamente, isso incluía o uso de armas brancas, lanças, arcos e flechas, combate montado, estratégias de movimentação em campo de batalha, e muito mais. Não se tratava de marcar pontos ou conquistar troféus, mas sim de sobreviver, dominar e defender a si mesmo, sua família e sua terra.
Ao longo da história e das culturas — dos samurais do Japão feudal aos cavaleiros medievais europeus, dos monges guerreiros chineses a tribos combatentes da África e das Américas — os sistemas de combate foram criados em resposta às ferramentas, ameaças e contextos específicos de cada época. As técnicas de combate sem armas que hoje vemos nas academias surgiram, muitas vezes, como último recurso, para situações em que o guerreiro estava desarmado ou quando civis precisavam se defender sem acesso a armamentos.
Contudo, o mundo moderno apresenta uma nova realidade. Já não vivemos em uma era de espadas e lanças. Hoje, as armas de fogo são os principais instrumentos de combate, violência e defesa, tanto no contexto militar quanto na segurança pública e na legítima defesa civil. Diante disso, o verdadeiro artista marcial contemporâneo é aquele que domina, com responsabilidade e precisão, não apenas as técnicas corporais, mas também o uso eficaz de armas modernas — como pistolas, fuzis e espingardas.

Limitar o conceito de artes marciais apenas a esportes de contato ou disciplinas tradicionais é ignorar a essência do próprio termo. A verdadeira arte marcial, nos dias de hoje, também está presente no estande de tiro, nas instruções táticas e no combate armado moderno. Dominar essas ferramentas não é trair a tradição, mas sim honrá-la — adaptando os conhecimentos e valores dos guerreiros do passado às ameaças do presente.